O incêndio federal | VEJA

CasaNotícias

O incêndio federal | VEJA

No coração do Planalto Central, uma grande fogueira de vaidades, desacordos e inaptidão, atiçada pela política nacional e suas

Fernanda Montenegro fará leitura extra de Simone de Beauvoir no Ibirapuera
MP do governo com R$ 12,2 bi ao RS será relatada na CMO pela deputada Laura Carneiro
Na Ucrânia em guerra, abrigos antibombas estão lotados. Salões de manicure também

No coração do Planalto Central, uma grande fogueira de vaidades, desacordos e inaptidão, atiçada pela política nacional e suas contradições, queima intensamente. Hoje o governo encontra-se ainda confinado em suas próprias limitações mentais e ideológicas, o que bloqueia a realização do seu vasto potencial. O resultado é uma administração confusa, desorganizada, fragmentada e sem uma narrativa coesa. Além de não ter a capacidade de moderação e contenção perante os demais poderes.

Essa fogueira é alimentada por diversos pontos de conflito. Um trio de ministros essenciais do governo, Haddad, Padilha e Costa, demonstra falta de harmonia. Outro ponto de combustão é a relação entre o Executivo e o Congresso. Além dos desafios das pautas propostas, Arthur Lira e Alexandre Padilha enfrentam desentendimentos. Tampouco há um entendimento de como opera o semipresidencialismo em vigor.

Enquanto isso, a economia enfrenta incertezas no âmbito fiscal e monetário, com redução mais lenta da taxa de juros. A mudança da meta fiscal também enfraquece a narrativa do governo e mais parece ter sido imposta pelas circunstâncias do que decidida pela equipe econômica. O mercado financeiro está inquieto e preocupado com eventuais intervenções nas estatais, aumento dos gastos públicos e busca de arrecadação.

Um outro problema significativo é a greve branca dos servidores públicos. Há uma paralisação proposital na emissão de licenças pelo Ibama, representando uma forma de pressão sobre os setores econômicos do país e atrapalhando empresários e trabalhadores, com imenso prejuízo para a economia, o emprego, as exportações e a geração de empregos. O governo não sabe como resolver a questão, que já se arrasta há meses. Outros desafios se acumulam nas áreas de saúde e segurança pública, e a agenda da reforma tributária fica comprometida pelo contexto eleitoral.

“A administração é confusa, desorganizada, fragmentada e sem narrativa coesa”

Continua após a publicidade

Lula parece isolado e sem apoio estratégico para lidar com tantos focos de incêndio. Também parece mais dedicado às suas convicções do que ao cansativo gerenciamento de egos entre os seus ministros. Além disso, o Executivo falha na comunicação, dando mais espaço, por inércia e ineficiência, aos conflitos do que a suas realizações e conquistas. Sem uma estratégia efetiva de gerenciamento de crises, encontra-se atrelado às suas próprias confusões, como ilustrado pelos casos da Vale e da Petrobras, que resultam em perdas para os acionistas, incluindo para os fundos de pensão dos funcionários públicos.

Para não ir longe, três cenários essenciais devem ser examinados, ainda que não garantam o fim do vaivém político: uma improvável melhora substancial de desempenho; uma melhora parcial e inconstante de desempenho; e a catástrofe completa. Mesmo com o governo tropeçando nos próprios cadarços, o cenário de confusão e fracasso, muito provável de permanecer como incômodo, poderia ser freado de algum modo. Como? Lula deveria reorganizar o seu time e intervir pessoalmente de forma mais clara e decisiva. Lula 3 precisa começar.

Publicado em VEJA de 19 de abril de 2024, edição nº 2889

Fonte: Externa