Energia renovável enfrenta escassez de altos executivos e busca profissionais de telecomunicação

CasaNotícias

Energia renovável enfrenta escassez de altos executivos e busca profissionais de telecomunicação

Executivos de alto escalão de telecomunicações estão sendo caçados a laço por headhunters para comandar companhias de geração e distribuição de energi

Crédito de carbono do mangue e capa para fruta: projetos do ensino médio brasileiro competem nos EUA
Por que demolição de imóvel dos anos 1930 virou polêmica nos Jardins; entenda
Qual o impacto da inteligência artificial nas eleições municipais? | Dois Pontos

Executivos de alto escalão de telecomunicações estão sendo caçados a laço por headhunters para comandar companhias de geração e distribuição de energias renováveis. Para driblar a escassez de profissionais da área e não inflacionar ainda mais os salários, consultorias de recursos humanos buscam executivos em outros setores, e o de telecomunicação virou a bola da vez.

De cada dez presidentes, vice-presidentes e diretores admitidos no ano passado por empresas de energia renovável, como solar, eólica e biomassa, três vieram do segmento de telecomunicações, aponta um levantamento feito pela Signium, consultoria americana especializada na contratação de executivos de alto escalão. Os dados foram obtidos a partir das admissões intermediadas pela consultoria

A principal razão para buscar profissionais de telecomunicações é a similaridade do setor com o segmento de energia. A partir dos anos 2000, com as privatizações, houve uma grande transformação nas empresas de telecomunicações. Essas companhias se reinventaram na oferta de produtos e serviços sob medida para o consumidor por conta da maior concorrência.

Eduardo Drummond, sócio da Signium, detectou a migração dos altos executivos do setor de telecomunicações para energias renováveis Foto: Taba Benedicto/Estadão

Processo semelhante está em curso hoje no setor de energia por causa da abertura do mercado livre. Até pouco tempo atrás, só grandes consumidores de energia podiam participar do mercado livre. Mas, à medida que o tempo passa, cada vez mais isso está mudando.

A expectativa, segundo especialistas, é de que, num futuro próximo, o cidadão comum possa por meio de um aplicativo, por exemplo, trocar a operadora que fornece energia para a sua casa apenas num final de semana determinado, a fim de se beneficiar do desconto oferecido.

Executivos de telecomunicação ajudam na transição de modelo

Nesse contexto, profissionais que capitanearam a transformação em empresas de telecomunicações, acumulando experiência no desenho de produtos e serviços, agora são cobiçados pelas companhias de energia para repetir no setor essa transição do modelo de negócio.

Eduardo Drummond, sócio da Signium, lembra que, anteriormente, o mercado de trabalho de energias renováveis era marcado por uma troca de profissionais de alto escalão entre empresas do mesmo setor. “Mas, pela escassez de executivos, as companhias agora estão começando a abrir esse leque para outras indústrias.”

No ano passado, a consultoria registrou crescimento de 60% na demanda por executivos de alto escalão – presidentes, vice-presidentes, diretores – para empresas de energias renováveis em relação a 2022. “Antes a taxa anual de crescimento não passava de 10% a 20%”, compara Drummond.

Esse movimento também foi percebido de forma mais intensa a partir de 2023 por Paulo Dias, diretor da Page Executive, especializada no recrutamento de executivos de alta liderança. No começo deste ano, a consultoria foi contratada por empresas de energia para buscar profissionais de alta liderança comercial e gestores de unidades de negócio. E parte da estratégia usada para atender a demanda tem sido olhar para executivos de telecom.

“Houve um aumento expressivo da procura de empresas do setor elétrico para executivos na área comercial, de diretoria executiva para cima, nos últimos dois anos”, confirma Alexandre de Botton, head de mercado industrial para Brasil e América do Sul da consultoria Korn Ferry.

O aumento da procura por executivos de alto escalão para ocupar posições de comando no setor de energia fez a Fesa, que se posiciona como “o mais completo ecossistema de soluções integradas de recursos humanos da América Latina”, incorporar no ano passado a Select Humans for Energy. Fundada em 2015, a consultoria foi pioneira em recrutamento e seleção dedicados a energia.

Luisa Gentil Blandy, vice-presidente e sócia da Fesa Group, também fundadora da Select, diz que o mercado está pujante para altos executivos do setor de energia por causa da transição energética, com as renováveis, e pelo avanço do mercado livre de energia.

Um sinal do aquecimento apareceu no desempenho da consultoria. O faturamento da Fesa com recrutamento de executivos para o setor de energia cresceu 260% em 2023, já com a Select incorporada, em comparação com 2022. “Quase triplicamos o faturamento da Fesa”, diz a vice-presidente.

Mercado de energia mudou e exige novo perfil de executivos

A escassez de executivos, segundo Dias, da Page, ocorre porque há muitos projetos novos no segmento de energias renováveis e poucos profissionais disponíveis, especializados, por exemplo, na venda das energias fotovoltaica, solar, biomassa, entre outras. Quem trabalha com energia elétrica está acostumado com o velho mercado e nem sempre está preparado para as mudanças, observa o consultor.

Botton, da Korn Ferry, ressalta que houve alterações no perfil do profissional demandado pelas empresas, não só pelas geradoras, mas também pelas distribuidoras, porque a regulação do setor mudou. “Antes eram poucos clientes de um mercado cativo; agora os produtores de energia começaram a oferecer soluções diretamente para os consumidores.”

Nesse cenário, o perfil do executivo que atuava no setor elétrico tradicional não é mais o que as empresas desejam. “A gente não encontra hoje profissionais que entendam do setor elétrico, que estejam há bastante tempo no setor e que tenham uma mentalidade diferente para mergulhar nessa nova fase varejista (da energia)”, afirma Luisa.

Energias renováveis atraem executivos de telecomunicações Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Para ganhar velocidade na execução dos novos projetos, os executivos com o perfil desejado estão sendo recrutados não só no segmento de telecomunicações, mas também em outros setores, como o de cartões de crédito, bancário e aéreo, observa Botton. Os pontos comuns entre esses segmentos são a regulação do setor, uma grande base de clientes e competição acirrada entre as empresas.

Ganhos futuros na energia atraem executivos de telecom

A busca por executivos nas empresas de telecomunicações também tem se destacado em relação a outros setores que podem fornecer esses profissionais por conta do momento que o setor atravessa. Como hoje o mercado de telecom está maduro e o nível de rentabilidade diminuiu em relação ao passado, muitos executivos já não veem tantas oportunidades e desafios. “Por isso, acaba sendo um casamento meio que perfeito (migrar de telecomunicações para energia)”, observa Dias.

Relativamente a outros setores. Botton observa que tem sido mais fácil atrair executivos egressos de telecomunicações para empresas de energia porque esses profissionais já percebem que os ganhos potenciais, no futuro, poderão ser maiores do que os obtidos hoje nas telecomunicações.

Os ganhos futuros sinalizados para atrair altos executivos estão concentrados na remuneração variável. Em média, para cargos de direção comercial, a remuneração variável oscila entre cinco e seis salários por ano. No caso de empresas de energia renovável, a sinalização é de um bônus que poderá ser o dobro, o equivalente a 12 salários, diz Dias, da Page Executive.

Já Drummond, da Signium, diz que o que o salário médio de executivos de alto nível para atuar no segmento de energias renováveis hoje está bem inflacionado. Nas suas contas, de 2022 para 2023 houve um acréscimo de 30% a 40%.

A escassez de executivos em empresas de energia, sobretudo renovável, também atinge o nível gerencial. “Temos visto, especificamente para o setor de energia renovável, uma necessidade de pagar luvas no ato de contratação para cargos menores, como gerentes e coordenadores”, diz Drummond. Esse procedimento, que é praxe nas contratações de altos executivos, hoje ocorre na admissão para vagas de média gerência em razão da escassez de profissionais.

Fonte: Externa