Ataque do Irã a Israel reaviva temor de 3ª Guerra Mundial; saiba o que a impede de ocorrer

CasaNotícias

Ataque do Irã a Israel reaviva temor de 3ª Guerra Mundial; saiba o que a impede de ocorrer

O ataque com centenas de drones e mísseis iranianos contra Israel na madrugada deste domingo, 14, no fuso horário local, colocou combustível na foguei

Defesas aéreas da Ucrânia estão sobrecarregadas com ataques russos, diz conselheiro de Zelenski
Gosta de discutir política? O Brasil Fala convida ao diálogo quem pensa diferente; conheça o projeto
Dirigindo com o Sr. Gil: aposentado ensina as regras das ruas a mulheres afegãs

O ataque com centenas de drones e mísseis iranianos contra Israel na madrugada deste domingo, 14, no fuso horário local, colocou combustível na fogueira dos temores de que o mundo pode estar caminhando para mais um conflito global, quase 80 anos depois do fim da 2ª Guerra.

De acordo com esse cenário mais pessimista, uma guerra aberta entre Israel e Irã vai levar a um conflito regional, com envolvimento de diversas nações vizinhas, que obrigaria os Estados Unidos e as potências europeias a dar proteção aos israelenses, de um lado, e a Rússia e a China a apoiar o regime de Teerã, do outro.

Manifestantes em Terã comemora ataque a Israel. (Photo by ATTA KENARE / AFP) Foto: ATTA KENARE

A Rússia aproveitaria o caos no Oriente Médio para iniciar uma grande ofensiva na Ucrânia, provavelmente acompanhada de uma incursão na Finlândia para testar a disposição da Otan, a aliança militar do Ocidente, de reagir a um ataque contra um de seus países-membros. Diante de uma ameaça existencial, as nações europeias colocariam suas tropas em confronto direto com os russos, apesar do perigo do uso de armas nucleares por parte do Kremlin.

A existência de dois palcos de guerra em escala regional com múltiplos envolvidos, na Europa e no Oriente Médio, arrastaria as nações de outras partes do globo a se posicionar em um conflito em várias frentes, tendo como pano de fundo a disputa entre dois polos antagônicos de poder, liderados pela China e pelos Estados Unidos.

O medo de uma 3ª Guerra Mundial é alimentado pela Rússia desde o início de sua agressão contra o território ucraniano, há dois anos, como forma de dissuadir as potências de um envolvimento direto no conflito. O governo ucraniano também fala do risco de um conflito global, mas com outro objetivo, o de convencer americanos e europeus da importância de dar mais ajuda militar e financeira ao seu país justamente para evitar o transbordamento da guerra para o restante da Europa.

Nos Estados Unidos, o temor de um conflito mundial é explorado eleitoralmente por Donald Trump para demonstrar a fraqueza e a incompetência do seu adversário, o presidente Joe Biden, na política externa. A esquerda americana, por sua vez, cita a possibilidade de o mundo estar caminhando para uma 3ª Guerra para criticar as operações militares de Israel na Faixa de Gaza.

Muitos historiadores e analistas são céticos quanto ao risco de uma 3ª Guerra Mundial e tratam as menções a esse tema como um alarmismo com fins políticos. Mas o fato é que esse é um cenário que não pode ser descartado pelos estrategistas militares das principais nações interessadas. Em janeiro deste ano, por exemplo, o jornal Bild revelou que o exército da Alemanha chegou a elaborar um relatório considerando as chances de um confronto direto entre as forças da Rússia e da Otan, com o emprego de 30.000 soldados alemães.

A escalada para um conflito de alcance regional no Oriente Médio é tão incerta quanto no caso europeu. Os argumentos para descartar essa possibilidade incluem, primeiro, a avaliação de que os governos dos países envolvidos são atores racionais que não têm interesse em um confronto aberto e direto. E, segundo, que o ataque iraniano deste fim de semana coloca o conflito em um ponto de equilíbrio em que todos ganham.

Sob essa ótica, o ataque do Irã foi só um aviso, uma demonstração da disposição dos aiatolás de reagir com força contra episódios como o bombardeio de uma representação diplomática em Damasco, na Síria, que matou membros da Guarda Revolucionária iraniana, no início de abril.

Politicamente, o Irã ganha porque mostra para sua população que não se dobrou às “provocações” israelenses. Ao mesmo tempo, calcula que a resposta de Israel será moderada, já que o sistema de defesa do país derrubou quase todos os drones e mísseis e não houve mortes. Tanto é assim que, horas após o ataque, o governo iraniano informou que a operação estava encerrada. Israel, por sua vez, avisou que a reação viria “no momento certo”.

O governo israelense ganha em duas frentes com o ataque sofrido neste fim de semana: primeiro, porque demonstra que o Domo de Ferro, seu sistema de defesa antiaérea, consegue proteger a população desse tipo de ameaça — algo importante depois das falhas de segurança que permitiram o sangrento atentado terrorista do Hamas em outubro passado; segundo, porque volta a aglutinar o apoio dos Estados Unidos, que havia sofrido abalos recentes, e da “aliança estratégica e a cooperação regional” contra o Irã, referindo-se a países como a Jordânia e a Arábia Saudita, que mobilizaram suas forças aéreas para interceptar drones iranianos que invadissem seu espaço aéreo.

Mesmo a ideia de que a Rússia pode se ver favorecida por uma escalada no conflito no Oriente Médio é questionável. O Kremlin tem grande influência na região, especialmente no Irã e na Síria, onde mantém bases militares, mas está focado na guerra na Ucrânia, que drena seus recursos bélicos, financeiros e humanos. O Irã tornou-se um importante aliado nessa guerra, principalmente para o fornecimento de armamentos, como os drones.

Um conflito regional no Oriente Médio teria efeitos contraditórios para o ditador Vladimir Putin. Por um lado, desviaria parte da atenção e dos investimentos militares dos Estados Unidos para longe da Ucrânia. Por outro, criaria dificuldades para o próprio esforço de guerra russo.

Tudo depende, porém, dos cálculos que estão sendo feitos em Jerusalém e em Teerã. A verdade é que nunca uma guerra aberta entre os dois países esteve tão na iminência de acontecer.

Fonte: Externa