Além das 25 capas de chuva, a perícia da Polícia Federal encontrou 27 celulares dentro do barco com nove pessoas mortas encontrado no sábado passado
Além das 25 capas de chuva, a perícia da Polícia Federal encontrou 27 celulares dentro do barco com nove pessoas mortas encontrado no sábado passado (13), no litoral do Pará.
Segundo investigadores, essa quantidade de aparelhos reforça a hipótese de que mais de 25 pessoas estavam na embarcação quando ele ficou à deriva. Ainda não há informações sobre as demais que não foram achadas.
Os telefones foram encaminhados para exames periciais no Instituto Nacional de Criminalística (INC), em Brasília. As possíveis informações extraídas dos celulares, dos chips e cartões de memória, em conjunto com ações de cooperação internacional, serão utilizadas para levantar indicativos sobre as identidades dos ocupantes da embarcação.
A PF e a Polícia Científica do Pará também já realizaram o exame dos 9 corpos retirados da embarcação encontrada próximo a Bragança (PA). A atividade envolveu mais de 30 pessoas em trabalho multidisciplinar, adotando o padrão de identificação de vítimas de desastres da Interpol.
O exame dos corpos foi feito por meio de exame radiológico; exame de vestes, pertences, documentos e adereços; exame médico-legal, com coleta de material para exames de DNA e de isótopos estáveis; exame odontolegal; exame necropapiloscópico; e estação de verificação de documentos e controle de qualidade.
Todos os dados colhidos foram enviados para continuar o processo de identificação no INC e no Instituto Nacional de Identificação, em Brasília, com apoio da Interpol e organismos internacionais.
Segundo a PF, não é possível estimar o prazo para identificação dos 9 corpos. As vítimas serão temporariamente sepultadas em Belém (PA), até que as identidades tenham sido estabelecidas e as famílias das vítimas possam ser formalmente comunicadas.
Investigação contra organização criminosa
A investigação da Polícia Federal sobre o barco aponta uma organização criminosa responsável pela migração ilegal, que culminou na morte das nove vítimas.
“Encontramos 25 capas de chuva no barco e 23 idênticas, isso evidencia a organização que existe por trás disso, com certeza. Para colocar um barco, mesmo que precário, com custo alto, existe uma organização”, disse à CNN, na quarta-feira (17), José Roberto Peres, superintendente da PF no Pará.
Segundo o delegado, “alguém ali organizou, colocou esse barco no mar e com certeza vendeu algumas vagas para as pessoas vulneráveis que pretendiam buscar uma vida melhor”.
As investigações revelam que existem rotas mundiais de migração em barcos e algumas delas passam pelo Brasil. No caso dessa embarcação, ela iria de Mauritânia, na África, para as Ilhas Canárias, mas ficou à deriva e acabou arrastada no mar até chegar à costa brasileira. O arquipélago espanhol é usado como rota migratória para entrada no continente europeu.
“É um assunto muito importante e preocupante. E a PF abraça essas situações há muitos anos, e tem feito trabalho de desarticulação de organizações criminosas que se aproveitam dessas pessoas que estão vulneráveis e procurando uma vida melhor”, reforçou o delegado.